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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Tango

O tango nasce no final do século XIX, numa mistura de vários ritmos provenientes dos subúrbios de Buenos Aires, associado a bordéis e cabarés.
No início, o tango em público era apenas dançado por homens. Como a população imigrante era essencialmente masculina, só as prostitutas aceitavam dançar este tipo de música, mas, enquanto dança, não se circunscreveu às zonas pobres e bairros dos subúrbios. Estendeu-se também aos bairros mais ricos e passou a ser aceite na alta sociedade, principalmente depois da dança alcançar sucesso na Europa, e particularmente em Paris. A melodia fazia-se com recurso ao violino e violão e, numa fase inicial, também com flauta que foi mais tarde substituída pelo bandoneón (espécie de sanfona). Os imigrantes, na sua grande maioria gente pobre e com um fado difícil, transmitiram nostalgia e um ar melancólico para as músicas. Talvez por isso os portugueses se identifiquem tanto com o tango. Hoje, o tango é vivido com enorme paixão pelos seus praticantes, mas é antes de tudo um bilhete de identidade da alma portenha, algo que está inerente e que se respira em cada ruela da sua cidade berço, Buenos Aires. Um século de história O tango nasceu como expressão folclórica das populações pobres, oriundas de diversos países, que se misturavam nos subúrbios da cada vez mais cosmopolita Buenos Aires. Uma dança multicultural que se identifica com o povo português, o folclore, os bairros pobres, a nostalgia, assemelhando-se ao fado. Numa fase inicial era puramente dançante. Em público, apenas dançavam homens com homens. Naquele tempo era considerada obscena a dança entre homens e mulheres abraçados, sendo este um dos aspectos do tango que o manteve circunscrito aos bordéis. Mais tarde, o tango tornou-se uma dança tipicamente praticada nesse tipo de locais, sobretudo depois de a industrialização ter transformado as áreas dos subúrbios em fábricas, transferindo a miséria e os bordéis para o centro da cidade. Nessa fase as letras do tango reflectiam essa realidade e esse ambiente. Eram obscenas e violentas. Por volta de 1910, emigrantes argentinos chegam a Paris, levando consigo o tango. A sociedade parisiense da época ansiava por novidades e extravagâncias. O tango transformou-se numa febre na capital francesa e, como Paris era o ícone cultural de todo o mundo civilizado, depressa o tango alastrou ao resto da Europa. Os mais conservadores e moralistas condenavam o tango (assim como já tinham condenado a valsa), por o considerarem uma dança imoral. Meter a perna entre as pernas de uma senhora era ofensivo e obsceno. A própria alta sociedade argentina desprezava o tango, que só passou a figurar nos salões da classe alta, graças ao efeito de ricochete provocado pelas notícias que anunciavam o sucesso da dança em Paris. Em 1917 começaram a surgir variantes do tango. Uma delas, influenciada pela romança francesa, deu origem ao chamado tango-canção. A letra passa a ser parte essencial do tango e, consequentemente, surgem os cantores de tango. O tango já não é feito exclusivamente para dançar. “Mi Noches Tristes” é considerado o primeiro - ou pelo menos mais marcante nessa transição - tango-canção. Nos cabarés de luxo da década de 1920, o tango sofreu importantes modificações. Os seus praticantes já não eram pequenos grupos que actuavam nos bordéis, mas sim músicos profissionais que trouxeram o uso do piano e mais qualidade técnica e melódica. Carlos Gardel já era um estrondoso sucesso em 1928. Sucesso que durou até 1935 quando, em pleno auge, faleceu vítima de acidente de avião. Gardel cantava o tango em Paris, Nova Iorque e muitas outras capitais do mundo, sempre atraindo multidões, principalmente quando se apresentava na América Latina. A sua participação em filmes produzidos em Hollywood contribuiu também para a popularização do tango. A década de 40 é considerada uma das mais felizes e produtivas do tango. Os profissionais que tinham começado, nos anos 20, nas orquestras dos cabarés de luxo conheciam então um pico de popularidade. Nessa época as letras do tango passaram a ser mais líricas e sentimentais. A antiga temática dos bordéis e cabarés, de violência e obscenidades, era apenas uma recordação. A fórmula ultra-romântica passou a caracterizar as letras: a chuva, o céu, e a tristeza do grande amor perdido. Na década de 50, Astor Piazzolla rompe com a tradição tradicional, ao introduzir uma nova alma no tango, que passa a ter influências de Bach e Stravinsky ou mesmo de Cool Jazz. O tango ressuscitava. Nesta década, assiste-se à explosão do Rock’Roll em todo o mundo, mas é nos anos 60 que a revogação da lei de protecção à música nacional argentina contribui para o incremento de outros ritmos musicais na rádio e para o desinteresse da indústria discográfica. Com o desinteresse das editoras, o tango conhece um período de estagnação, que durará até à última década do século XX.


Fonte: Casa da América Latina

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